terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um livro, uma lágrima, uma ligação, uma madrugada, uma lição e um entender.


Às vezes tenho vontade de morar num planeta onde para se ver o pôr-do-sol basta afastar a cadeira um pouquinho para trás, e, desse modo, ver quantos pores-do-sol quiser. É bom ver o pôr-do-sol quando se está triste, mas quando estou triste raramente vejo o pôr-do-sol. Aqui, onde moro, ver pores-do-sol é bem mais difícil! Quase ninguém entende o quão isso é necessário e é cansativo ter que explicar e convencer a todos da importância de amar um pôr-do-sol, explicar para pessoas isso que para mim é algo tão simples e óbvio me entristeceria ainda mais, então leio livros, ouço musicas, escrevo, penso em tudo e em todos e elaboro minhas “teorias”.

Uma noite dessas, quando estava com vontade de ver o pôr-do-sol, comecei a folhear um pequeno livro e no fim deste me vi chorando como uma menina que perdeu o “urso azul” que costumava fazê-la companhia na hora de dormir e agora está com medo e chorando, mas ainda assim tem que dormir. No meio dessas lágrimas teimosas lembrei-me do que tinha aprendido: “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...” e assim achei justo estar chorando. Compreendi finalmente que ainda não suporto a ideia de nunca mais escutar seu riso, de nunca mais ter seus braços como casa. Mesmo triste, digo com calma e doçura: “trata de ser feliz...”. E essa minha falta de censura muitas vezes surpreende: é claro que o amo, mas essa despedida longa me deixa debilitada! “Tu decidiste partir. Vai-te embora. Trata de ser feliz”. Depois, quando tiver me consolado, me sentirei feliz por tê-lo conhecido e eu vou lucrar por conta das andorinhas, lucrar por conta do arco-íris.

Em meio a todas essas conclusões lembrei-me também do que me disseram durante uma ligação: “Sumi. Estou fugindo de você, porque você é necessária. Eu preciso de você e não posso precisar, pois um dia você vai embora e eu vou sofrer.” Essas palavras me renderam uma madrugada inteira de vontade de ver o pôr-do-sol. Entendo e aceito a vontade dele que tanto amo e que é tão necessário para mim e repito o que o disse: “Se você precisa de mim, então precise. Se eu te faço bem então ficar sempre por perto, mas se eu te faço mal então suma. Trata de ser feliz... Você sabe onde moro eu vou estar sempre aqui. Trata de ser feliz.” Será que não entendes que, quando um dia eu for embora, mesmo que você chore e sofra estará lucrando por conta da chuva? Quando eu partir cada banho de chuva que tomarás será como se eu estivesse tocando o seu rosto.

E se escrevo essas linhas agora é graças a tudo que aprendi com um pequeno livro de 48 paginas que li e releio sempre que estou muito triste e com vontade de amar um pôr-do-sol. Esse livro conta a estória de um Príncipe que era encantador, que tinha como distração a doçura do pôr-do-sol, que era fiel a uma Rosa que o cativara, que cativou uma Raposa que sofreu com sua ida, mas que lhe ensinou que sua Rosa era única e que ele era eternamente responsável por ela.

 Esse livro feito para as crianças ensina muito mais lições que livro de gente grande e peço, por favor, que aprendam a importância de criar ritos, de cativar e de amar uma Rosa única. Assim talvez entendam de uma vez por todas que o importante é invisível aos olhos, que vale mais o coração, que não é preciso entender e sim sentir, mesmo se não for para toda vida, pra sempre se lucra e que no fim possam sempre dizer: “Trata de ser feliz. Volta para tua Rosa, não me fizeste mal, eu lucro por conta do trigo”. Digam isso para os Príncipes que os cativaram e que são responsáveis por outras Rosas e tiveram que voltar para ela.

Escrevo especialmente para mim, para que eu consiga aceitar que o Príncipe que me cativou é responsável por uma Rosa e que tem que voltar para ela, sou a Raposa que lucra por conta do trigo. Um dia a Raposa vai virar a Rosa de um novo Príncipe, pois acredito que todos são a Rosa e o Príncipe de alguém. Então, que nos deixemos cativar quantas vezes pudermos, por quantos Príncipes forem necessários até sermos a Rosa que brilhará na fidelidade de um Príncipe como a chama de uma lâmpada que brilhará até mesmo quando esse dormir.