quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Brincando de construir castelos de areia sem pensar nos ventos.

(perdendo a cabeça num sonho de verão)

    Fim de tarde. Eu e ela estávamos na varanda. Na mão, o drink preferido de cada uma. Amávamos aquele pôr-do-sol como aquele que mora em algum lugar muito distante nos ensinou a amar. Conversávamos, silenciávamos, ríamos, conversávamos de novo. Essa era a sequência! Em um desse silêncios, onde cada uma sorria com seus próprios pensamentos, ela falou:

- Estou ridiculamente apaixonada!

    Bebi delicadamente meu drink. Pensei em como lidar com aquela nova informação. Não conclui nada, então, perguntei:

- Isso é bom ou ruim ?
- Péssimo!
- Então, devo me preocupar?
- Ainda não. Estou estranhamente feliz.
- Eu vou conhecê-lo?
- Não. Fizemos um pacto implícito de sigilo, pela complicação envolvida.

    Mais uma vez, parei. Precisei entender o que aquilo significava. A preocupação chegou sem convite. Admiti, por fim, que isso a estava fazendo bem. Conhecia aquela menina de olhos inseguros como ninguém e nos últimos tempos ela havia sofrido um bocado. Ela estava feliz como há tempos não se encontrava. Ela merecia aquele romance secreto. Sorri e perguntei:

- Isso é tudo que eu vou saber do seu “romance secreto”?
-  Claro que não. O que quer saber ?
- Depende. O que você quer me contar ?
- É uma historia cheia de complicações, impossibilidades. Destinada a acabar mal. Ele é encrenca, das grandes. Faz todos os seus “romances” parecerem fáceis.


    Notei que a Lua já havia surgido. Notei que meu drink tinha acabado. Notei que o drink dela já tinha acabado. Notei o jeito como ela falava dele. Sorri e disse:

- Vou preparar novos drinks. Triplos: a história vai ser boa!

    Ela sorriu, e continuou:

- Eu não devo. Eu sei! Mas como resistir aqueles olhos ridiculamente castanhos me olhando tão diretamente? E como saciar a minha curiosidade sobre aquela cicatriz enorme que ele nunca conta como consegui? É complicado! É impossível! É errado! Mas quando eu e ele estamos juntos, só a gente, o erro se desfaz num jeito bom. Como se cada pincelada fosse executada numa precisão que é irreal: as mão se encaixam, os olhos se encontram, os sorrisos surgem juntos, os diálogos são improváveis, os beijos intermináveis, o jeito como ele me trata e até a singularidade da sua cadência fazem cada dia ficar mais doce. Estou quase flutuando e nem entendo como fiquei assim. (…)

    E seguiu, entre um sorriso e outro, entre um drink e outro, entre um assunto paralelo e outro, uma narração meticulosa sobre ele - menino dos olhos ridiculamente castanhos - e ela - menina de olhos inseguros. No fim, eu sorri, alegremente, por ouví-la e vê-la assim, fulminante. E acrescentei:

- Fazia muito tempo que você não falava de alguém desse jeito, com os olhos repletos.
- Eu disse. Estou ridiculamente apaixonada e isso só pode acabar mal.
- Então, minha cara, faça o meio valer a pena.
06 de novembro de 2012
Stephanne Oliveira

Encostar no teu peito
E se isso for algum defeito
Por mim
Tudo bem”

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Case ou compre uma bicicleta!

(seja a bicicleta, serei também...)
Era sábado, chovia muito, ela estava ali por um único motivo: ele. Atravessou o estacionamento sozinha, coração batendo acelerado, os olhos checavam todos os carros a procura de uma placa: EAG 3319. Não encontrou. Ele não estava ali. Era sábado e chovia, o relógio ainda não marcavam oito horas, ele não tinha motivos para estar ali. Não em um sábado, não tão cedo.
Ocorreu como estava sendo boba: a semana havia sido cansativa, ainda podia estar dormindo, seus compromissos só começavam uma da tarde, com um almoço de negócios. Tinha pela frente cinco horas de vazio, o dia não ia ser bom, precisava de companhia. Subiu as escadas, procurando um rosto conhecido que pudesse acompanhá-la nas horas que viriam, não encontrou.
Desceu as escadas. Sentou na área de convivência. O sol foi surgindo e em pouco tempo já estava intenso secando calmamente as poucas poças de água que se formarão. Ela guardou o casaco e começou a folhear um livro que encontrou esquecido em sua bolsa. Cumprimentou algumas pessoas que chegaram. Quase não parava o olho no livro, procurava algum sinal que ele estivesse ali. Tomou um café, refez os planos para o dia, revisou os papéis, preparou uma ou duas declarações, respondeu alguns e-mails, pensou em escrever algo, mas não conseguia prender atenção em nada.
Olhou o relógio, ainda tinha 3 horas. Desistiu. Ficar ali sentada não ajudava em nada. Levantou-se e começou a caminhar pelos corredores vazios. No último corredor, antes da saída de emergência, uma sala estava com a luz acesa. Apressou o passo, conhecia o dono daquela sala. Um sorriso no rosto, duas os três frases depois, ela conseguiu tirar “o músico”, como era chamado pelos mais próximos, daquele cubículo e levar para um lugar aberto. Ele seria um amigo para conversar e tocar violão pelas próximas horas.
E enquanto elas passavam, outros colegas chegaram: o dia começava a melhorar. Papo leve, sorrisos e música boa. O clima estava gostoso, sentia vontade de caminhar, lembrou dele e das caminhadas curtas que sempre faziam quando queriam abstrair as complicações do trabalho. Sorriu e deixou o pensamento de lado. Olhou o relógio e programou o horário de ir para a seu almoço. Restavam menos de duas horas. Pensou em sua manhã nada produtiva, em todos os compromissos do dia e, de olhos fechados, deixou-se esquecer de tudo enquanto o sol batia no rosto e ouvia sem ouvir a música.
Não notou os passos que se aproximavam atraídos pelo som, mas reconheceu o perfume característico que o vento trouxe. Era ele! Ela abriu os olhos devagar e um cumprimento mudo foi feito, ele sentou ao seu lado e nada foi dito durante duas ou três musicas, quando “o músico” avisou que teria que voltar ao trabalho. Todos se foram e ele a convidou para a tradicional caminhada.
Ela estava com ele. Os olhos falavam tudo que não era dito, olhares iam muito mais longe do que a conversa superficial sobre o dia, o trabalho... Mas era tudo que ela precisava. Um bipe estralou no ar e ela se despediu, aguentaria o dia. Acordar cedo tinha valido a pena, só por um minuto com ele. Ela sorriu boba enquanto se dirigia ao local do almoço. Ele fazia ela sentir-se tão diferente que ela ainda não sabia se era bom ou ruim.
O dia seguiu o curso normal, sem muitos problemas. Ela estava feliz, apesar de não ter recebido nenhum sinal de vida dele durante todo resto do dia. No fim do dia, ele a esperava no estacionamento com um sorriso lindo e os olhos enigmáticos. A abraçou e explicou que tinha uma surpresa. Depois de alguns minutos estavam ela e ele ao lado de uma mesa de jantar pronta em um ponto alto da cidade, as luzes faziam o cenário ficar quase surreal. Ele sorria satisfeito e ela perguntou:

 - Um jantar, para mim ?
- Não, boba, não é pra você. É pra gente.
... As pequenas coisas que valem mais.
Era tão bom estarmos juntos e tão simples.
Um dia perfeito ...”




domingo, 30 de setembro de 2012

Mais um. (Um pouco mais sincera)




Tem gente que escreve para marcar inícios. Eu gosto mesmo dos fins, mesmo quando eles não são tão bons assim. Os fins significam que uma história existiu, significa que tenho algo a lembrar, uma boa história para contar...

Ela não gostava dele e não iria gostar. Isso ficou bem claro nos primeiros encontros e era incontestável. Quem conhecia sabia que nem no cenário mais louco existiria a mais remota chance de envolvimento, sabia, também, que esse seria o principal motivo para o envolvimento acontecer. Duas crianças mimadas buscando o impossível.

Tudo começou pela curiosidade dela, que não acreditava no jeito de bom moço dele, ela precisava saber quem era ele de verdade. Acredito que ele percebeu isso rápido e fez disso uma estratégia para conquistá-la. Ela passou a analisá-lo constantemente, prestava atenção nos olhares, no perfume, no toque... percebeu que ele seguia o padrão de todos os outros. Apareceu nessa impossibilidade junto com o perigo eminente. Logo para ela, que almeja o impossível.  Para completar a fórmula, existiam as mudanças: do humor à rubrica. Mudanças que surge em caos, sem justificativa. Logo pra ela que acha razões, lógicas e sentidos até onde não tem.

Ele era perfeito e nem sabia disso. Desfez a igualdade de forma tão sutil: só depois que já havia preocupação e apego ela percebeu que suas implicações faziam bem. Percebeu que ele desfazia o vazio e resolveu deixasse levar por saber que seria platônico, nunca haveria intimidade. O vazio foi acabando e ela ficava surpresa por ele sempre agir como deve para ganhar sua atenção, enfim ela estava no seu jogo. Jogo de insinuações e provocações, sem objetivo definido, apesar de declarados com toda educação.

Depois de um tempo ela reparou que ele sempre vinha a sua cabeça durante as viagens que faziam parte da sua rotina e era ali que ela permitia pensar nele horas a fio. Achava graça por estar desenvolvendo cenários, ficava feliz por saber que esses jamais iriam acontecer. Como seria complicado se acontecem.  Era divertindo encontrá-lo ocasionalmente e vê-lo provocando-a. Era divertindo lembrar-se das cenas e dos diálogos que foram ficando mais frequentes. Ela se divertia e se deliciava com esse jogo de perigo. Eles não repararam no que estava para acontecer.

Numa sexta-feira, depois de uma semana complicada, ele a ligou, surgiu uma proposta de um encontro naquele momento. A semana havia sido complicada, ela merecia se divertir um pouco. Desenhou-se a historia. Provocações, implicações, conversas, birras e beijos, essa foi a sequência de uma noite que nunca deveria se repetir. Eles não podiam estar ali.

Distância segura foi necessária para esquecer. O sol voltou a brilhar e tudo voltou ao normal. Ela ocupou-se de coisas mais simples e por isso, facilmente, perecíveis. E como dizem: “o tempo passou, é claro que passaria como passam as vontades e voltam outro dia.” Mais de um mês depois, quando os cenários já haviam sido esquecidos, tudo começou de novo, dessa vez o jogo não durou muito tempo: um olhar, um diálogo, uma semana e dois encontros. 

Depois disso, havia acabando, ele sabia disso, mas ela simplesmente não aceitava, não por ter se apaixonado ou por ele já ser importante demais. Ela não permitiu o apego. Não saiu em nenhum momento do seu limite de segurança. Ele era apenas um jeito divertindo de fugir das semanas complicadas. Eram dias de complicações e por isso, apenas por isso, ela tentava encontrar de novo aqueles olhos, olhos ridiculamente castanhos. Mas, enfim, percebeu que junto com Setembro a história, que é mais ficção que realidade, terminou. Restam algumas paginas escritas sobre esse ser tão inconstante, que não será desvendado.

Eles se conheceram, se paqueraram, se tocaram, se beijaram e quando estavam prestes a começar um romance para os dias complicados, acabaram. Uma historia de muitos diálogos e poucos encontros. Durou mais do que qualquer um apostaria. Deixou mais marcas do que poderia se prever, mas ela conta que foi extremante intenso e divertindo. Deixou uma boa história para contar, e acabou com uma ligação, um e-mail, um sms, um texto e Setembro.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mas, se houvessem intimidades...



Se houvesse intimidade o bastante, haveria, também, perguntas do porquê da cara de ciúme, do porquê da cara de decepção, do porquê desse humor tão instável, do porquê de tanta necessidade. Se houvesse intimidade haveria a tentativa de entendimento. Haveria conversas sobre o pôr do sol, poesia, lendas e fotos. Haveria a curiosidade a cerca de tudo e haveria muita coisa em comum.
Se houvesse intimidade haveria troca de SMSs, ligações de madrugadas e não faltariam convites pra jantar, caminhar, dançar ou beber vodka. Se houvesse intimidade seria permitido apego, haveria conhecimento do desejo e as mãos se encaixariam.
Se houvesse intimidade não haveria pressão, nem obrigações. Sem status no Facebook haveria relacionamento, mesmo que um assim bem de mentirinha, mas cheio de sinceridades sem mentiras sobre exclusividade e quando estivéssemos juntos seríamos corpo e alma um do outro, como se não houvesse mais ninguém. Se houvesse intimidade e apego e um relacionamento de mentirinha haveria, também, ligações pra aparecer do nada, mas só se você também aparecesse quando eu tivesse vontade de você durante a madrugada fria.
Se houvessem intimidades certamente seria diferente, mas foi acidente de percurso, impulso do momento, culpa toda do ambiente que era propício. E, na realidade, de você não sei nem o nome completo, o único sms mandando não foi respondido e a ligação do dia seguinte não aconteceu por falta de intimidade.
Não há intimidade, mas se houvesse seria diferente. Seria divertido e seria bom de ter perto, mas não há intimidade, não há relacionamento, não há ligações de boa noite. O que existe é só o olhar que contra a ordem me olha e diz tudo que não foi dito e confessa e pede enquanto meus olhos brincam: horas correspondem, horas te olham, horas te esnobam.
Daqui é tudo muito divertido: um jogo perigoso que não será jogado. Queda de braço pra ver quem cede primeiro, disputa infantil sobre não ligar, não convidar e se não houvesse o olhar que me chupa como um zoom, que muitas vezes me faz perder a pose e sorrir feliz e outras tantas vezes me faz te olhar de voltar só pra te tentar, se não houvesse o olhar não haveria esse texto. Mas se houvesse intimidade, não haveria jogo por ser perigoso demais.
Se houvesse intimidade e apego seria diferente, haveriam textos, declarações e confusões. Seria necessário abstrações. Mas não há intimidade. Não há apego e, o mais importante, não há informações. Só existe o jeito de olhar, o jeito de falar e aquelas malditas mãos quentes junto com aquele perfume insuportável e o toque que em voltas volta a minha cabeça, então existe jogo! E uma enorme curiosidade de saber até onde vai, até onde é divertido, mas as regras são claras, por não haver intimidade, não pode haver conversas, não pode permitir apego.
Por não haver intimidades existe segurança e permissão a continuar com esse jogo que não existe. Imaginando esses olhares cheios de significado, sonhado em poder sentir mais uma vez o toque e fazendo de tudo pra jamais acontecer. Por não haver informações pode se imaginar que existe o jogo, imaginar como seria se houvesse intimidade.
          E, por fim, agradecer por não haver intimidade, por não haver apego, por não haver ligações, por não haver possibilidade de cativação. Por não haver intimidade pode-se ficar e escrever e falar que se houvesse intimidade haveria sensação de bem estar, teria a certeza que ali é o lugar certo e ali seria o lugar que mais se deseja estar por haver devoluções, mas se houvessem intimidades haveria fuga e seria oficialmente complicado. 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O novo desconhecido.


    Diferente dos outros, ele não frequentava corredores vazios, nunca passou do outro lado da rua e nem saibamos da existência um do outro. Ele surgiu no meu mundo por conta própria como se por puro capricho do destino, só para quebrar a regra de sempre quebrar as regras. Ele não é proibido nem impossível e não tem nada a ver com preencher vazios ou devoluções, não tira o meu sonho e não me devolve a paz.
    Não existem teorias nem cenários ou mesmo o desejo mais remoto de uma paixão que me tire o chão. Não o vejo como uma fuga ou como uma solução desse vazio que anda preenchendo todo o espaço desse quebra-cabeça mal arrumado. Não tenho opinião formada ou desejos, só um punhado de curiosidade das bem simples como: qual é o seu segundo nome? Em quem pensa antes de dormir? E porque esse olhar? Nenhuma pergunta essencial, talvez, dessa vez, o que mais goste seja a falta de informação e previsões. Talvez o que me atraia seja a minha curiosidade por ele e não por sua intenção, tenho quase certeza que ele não é daqui.
    E como é estranho sentir falta de alguém que não é raro, que de tão comum torna-se previsível. Que passaria despercebido se não fosse pelo par de olhos e pelo sorriso de moleque travesso que fazem a igualdade se desfazer tão rápido quanto se fez. Ainda tenho duvida do que mais gosto nele: se o olhar, o sorriso ou jeito de cuidar de uma nova desconhecida que nem é assim tão bonita como diz ou tão legal quanto se espera e está bem longe de ser constante e/ou previsível.
    O que há de mais diferente dos outros é o que sobra depois da despedida dos nossos minutos quase diários de convivência. Minutos de encontros e reencontros dos nossos olhos que se entendem tão bem um com outro e de sorrisos que diz bem mais que todas as palavras que não são ditas. Acostumei-me rápido demais com as implicações só para provocar o meu sorriso e os meus olhos que sem permissão mostram o quão bem sua presença me faz e como eu já sinto falta quando os braços que são casa na despedida não estão lá para me garantir que amanhã ainda terei seu olhar por perto.
    Olhar que me olha e me interroga e me desconcentra e me faz às vezes perder o ar. E meu coração já anseia o momento que vou flagrar seus olhos te desobedecendo e me olhando inquietos como se duvidasse que ainda é realidade e então o toque, sempre acidental, que prova que sim é possível, é real! E depois, por fim, o descaso, de ambas as partes, por não entender o que se passa.
    E assim segue sem muitas justificativas dos motivos dessa intimidade precoce. Sem muitas previsões e intenções só o desejo de continuação e a curiosidade de saber mais sobre o tão novo e desconhecido.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A menina que não cuida de anjos.


Nunca achei que seria necessário escrever sobre isso, parece-me tão obvio! Mas ninguém percebe ou faz desnecessário seguir, talvez, então, escrevendo todos entendam e parem de me pedir o impossível. Não sou super-humana e não tenho o poder de resolver tudo para todos. Por favor, não me venham com problemas insolúveis e não me façam vivenciá-los, nada de me fazer de testemunha de lágrimas - não entendo nem as minhas quem dirá as suas - e não me provoque culpa, pois estou agora mesmo em uma reunião a sós comigo para jamais sentí-la por causas perdidas.
E, ao que parece, uma parte bastante teimosa de mim não entende isso e insiste em entrar em brigas que não são minhas, em me culpar por lágrimas que não ajudei secar ou se ajudei, que não evitei, me calei quando devia falar e todas essas coisas que sei não são minhas responsabilidades, mas parece tão difícil aceitar e cumprir essa regra que me vejo, aqui e agora mesmo, me culpando por problemas que simplesmente não são meus e não que cabe a mim resolvê-los.
Um par de olhos derrubava lágrimas inocentes e puras presenciei aquilo mais uma vez enquanto um anjo mais velho tentava resolver tudo da melhor forma possível. Enquanto outra, que ainda distante, tinha olhos inundados por não saber por quanto tempo ainda irá aguentar aquilo. Tentava não quebrar a promessa que há tempos fez.  Enquanto isso,  eu assistia a cena à meia luz, muda e parada sem saber o que falar, de quem cuidar. No fim, culpava-me por não saber o que dizer, por ter fugido mais uma vez, por ter permitido que aquelas lágrimas todas caíssem.
No fim, o causador de tudo também chorava. Talvez por culpa, por não saber pedir desculpas, talvez por dor. Um choro sem motivo, mas nobre e carregado de justificativas mudas. Choro que não vi por ter preferido fugir mais uma vez. Resguardam-me ecos de informações e depois culpam-me por não ter estado lá, por ter visto o choro ou por não o ter feito, por não ter uma fórmula para que isso jamais aconteça, por não ter A Cura e A Solução de tudo. Culpam-me, talvez, por não ser super humana, por não chorar junto ou simplesmente só pelo prazer de culpar-me. Só por não me aceitar como menina pequena ou como quase adulta. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

O barco não deixará de existir


Sempre me ensinaram que a vida é um ciclo onde nascemos e vamos crescendo aos pouquinhos, aproveitando a infância. Depois, chega a adolescência carregando todos os seus dramas, até que um dia encontramos alguém legal e percebemos que essa pessoa vai passar o resto da vida conosco e então teremos filhos e seremos felizes até muito depois da morte.
A vida anda me mostrando que a realidade nem sempre segue o caminho feliz da teoria e não digo isso por estar passando pelos dramas, digo por que alguns não passarão por eles. Serão privados dessa agonia de se apaixonar por um dia inteiro que nos ensina a reconhecer o pra sempre e sei que falo desse jeito por puro drama pois nada foi decretado, mas só a ideia de não poder passar madrugadas em claro me deixa inquieta.
Disseram-me que o canto do cisne só ocorre uma vez, mas os navios que somem no horizonte não deixam de existir, assim como a ausência que eles causam e eu nunca soube lidar com ausências. Passarei muito tempo indo ao porto esperando ansiosamente o navio que não voltará aparecer no horizonte. Peço a alguém que o navio não suma.
Desculpa se a reação não é a esperada, se a fé não está no nível que todos esperavam de alguém que diz a si mesmo ter um Deus como amigo, mas não estava escrito em lugar algum qual devia ser a reação e ninguém leu esse livro para contar o fim dessa história. Não condenem a insegurança sentida, tenho medo!